CARAMURU
A marca de comércio CARAMURU foi usada pela F.A.M. (Fábrica de Armas Modernas), empresa que era distinta da original fabricante dos Fogos Caramuru, de quem adquiriram o direito de usar a marca e alguns projetos de armas que já estavam prontos. A firma era de propriedade do empresário e designer Miguel Raspa e do Sr. Antonio Chieffi Filho. Este último era também sócio do Sr. Biagino Chieffi na famosa Indústria de Fogos Caramuru .
A empresa atuou nas décadas de 60 e 70, na cidade de Jacareí, no interior do estado de São Paulo, produzindo neste período alguns bons revólveres com a armação feita em aço, carabinas em calibre .22 e carabinas de ar comprimido. Uma coisa que nos chama a atenção na Caramurú é sua logomarca, que é a famosa cabeça de um índio com cocar e ornamentos. O que estranhamos é que o desenho nos remete mais à face de um índio norte-americano e não de um índio brasileiro, o que seria mais condizente com o nome da marca.
A famosa marca comercial da Caramuru, presente também nos fogos de artifício.
Deixando a controvérsia de lado, o primeiro modelo de revólver foi o R1, dotado de cano com perfil octogonal e com 2,6 polegadas (os canos possuíam 5 raias e eram forjados pela Chapina, outra extinta indústria de armas brasileira), com a liberação do tambor feita por um pino situado diretamente no retém do cano, travando a “caneta” do extrator. A capacidade do tambor era de 7 tiros. As talas da empunhadura eram de madeira, com acabamento zigrinado e envernizadas, possuindo um inserto em forma de escudo de latão com a marca de fábrica.
Modelo R1 em calibre .22LR
O mecanismo podia ser acessado lateralmente, com a retirada da tala de madeira e de uma tampa fixa à armação, e por ali todo o mecanismo podia ser desmontado. O desenho da arma lembra um pouco o modelo Ladysmith da Smith & Wesson, similar ao que a Amadeo Rossi também fabricou, no mesmo calibre. Porém, a usinagem interna e mesmo o acabamento externo deixava muito a desejar, principalmente quando se comparava esse revólver com os modelos similares da Taurus e da Rossi.
Outro modelo mais bem desenvolvido foi o R7, basicamente o R1 redesenhado, com empunhadura mais larga, e liberação do tambor efetuada por um botão deslizante, na lateral esquerda, como nos Smith & Wesson. Houve mudanças no desenho dos canos, que passaram a ser redondos ao invés do perfil octogonal. Os canos deste modelo tinham comprimentos que iam de 1 até 6 polegadas.
Revólver R7 com cano de 2″, também em calibre .22LR, com talas em plástico imitando “madre-pérola”
Além dos dois modelos em calibre .22LR, a Caramurú lançou posteriormente os modelos R6 e R7, em calibre .32S&WL, tentando atingir um mercado mais exigente, principalmente quanto ao calibre, um pouco mais adequado à defesa pessoal. Essas revólveres vinham com canos de 2 ou 3 polegadas de comprimento e com capacidade de 6 tiros.
Um modelo R7 da Caramurú, em excelente estado e todo original, foto gentilmente enviada pelo leitor L.D., do Paraná.
Na categoria de armas longas, a fábrica produziu uma carabina de um tiro em calibre .22LR denominada de K1. Estranhamente lançaram outra versão, chamada de CLK, também em .22LR mas com alma lisa. A K5 já era bem melhor projetada, com ação por ferrolho e carregador para 5 cartuchos, cujos canos eram fabricados na Fábrica de Itajubá. Espingardas de caça também saíram da linha de produção da Caramurú, como o modelo 62, de um tiro com cão externo, em calibres 28,32,36 e 40. A bem da verdade, essas espingardas eram produzidas pela Lerap, outro fabricante do qual falaremos adiante. Finalizando as armas longas, houve também um modelo de ar comprimido, de ação de bomba, em calibre 4,5mm.
Algumas armas e projetos que não saíram do papel foram o revólver R3, em calibre .38SPL e uma sub-metralhadora baseada no projeto da israelense UZI, em calibre 9mm Parabellum, uma intenção clara de tentar alcançar o mercado policial e militar brasileiro, mas sem sucesso. A Caramurú parou de produzir armas de fogo em meados da década de 1970, passando a produzir desde então, peças de automóveis.
LERAP
A Fundição e Indústria de Armas Lerap estava localizada na cidade de São Paulo, no bairro do Brás, próximo à antiga Estrada de Ferro Central do Brasil. Foi uma das mais antigas fábricas de armas brasileiras e seu nome, pela mais provável razão, deve ser oriundo dos nomes de seus proprietários, de origem alemã, que a fundaram em 16 de junho de 1939: Lemck e Rapp. Segundo Fábio Carvalho, essa origem do nome é uma das muitas incógnitas da industria nacional, dela não se tendo absolutamente nenhuma informação. A intenção inicial era a produção de torneiras, canos, tubos e artigos domésticos com acabamento estanhado ou esmaltado.
Pistolão, ou garruchão LERAP em calibre 28GA
A Lerap produzia alguns modelos de garruchões e espingardas de caça, de cano simples e cão exposto, em vários calibres mais acessíveis como o 28, 32 e 36. O sistema de trancamento do cano usado nessas armas era muito similar ao chamado Snake Key (chave serpente), utilizado nas espingardas belgas Leclerc. Além das espingardas, a maior produção se concentrava nas garruchas de dois canos, baseadas nos tradicionais desenhos das importadas da Espanha e da Bélgica, em calibres .320 e .380, utilizando cargas de pólvora negra. Suas talas eram de plástico negro com acabamento zigrinado e o acabamento era niquelado.
A garrucha Lerap em calibre .320
A Lerap também chegou a fabricar espingardas sob encomenda para a fábrica de armas Caramurú, como vimos acima. De modo geral, a aparência das armas da Lerap lembrava armas artesanais, feitas à mão, com muitas marcas de usinagem e rebarbas que eram deixadas no produto final, bem como o acabamento niquelado ou oxidado de baixa durabilidade. No final de sua produção ainda tentou fabricar algumas armas mais bem cuidadas que os seus tipos tradicionais, como espingardas de canos sobrepostos com coronhas no estilo inglês, monogatilho, e réplicas das clássicas pistolas de bolso tipo Remington Derringer. A produção dessas armas foi irrisória, de modo que não se encontram facilmente nas mãos de caçadores ou atiradores. Encerrou suas atividades por volta de 1964.
Antigo anúncio das espingardas LERAP, publicado em revistas especializadas (cortesia de F. Carvalho), uma espingarda que “podia concorrer em qualidade com as importadas”…
I.N.A.
A história da Indústria Nacional de Armas começa longe do Brasil, no início da Segunda Guerra Mundial, quando os alemães invadiram a Dinamarca. Exatamente neste período conturbado, o oficial do Exército Brasileiro Plínio Paes Barreto Cardoso estava neste país em visita oficial. Os dinamarqueses confiaram a ele alguns projetos de armas, inclusive o de uma metralhadora leve, que são trazidos ao Brasil, para longe das mãos dos nazistas. Finda a Guerra e restituídos os projetos, o Dansk Industrie Syndikat cede por gratidão os direitos da fabricação da submetralhadora Madsen, modelo 1946. Assim em 1949, presidida pelo então General R-1 Plínio Paes, é fundada a Indústria Nacional de Armas – INA, no bairro de Utinga, na cidade de Santo André, Estado de São Paulo.
A sub-metralhadora INA, em calibre .45ACP, adotada pelo Exército Brasileiro, com sua coronha articulada na posição aberta (foto: Manual de Operação EB-1956, do autor)
O carro chefe de sua produção sempre foi a submetralhadora M1950 (uma modificação da já citada Madsen M1946, sendo as diferenças principais da original dinamarquesa a mudança do calibre de 9 mm Parabellum para o 45 ACP, embora isso não fosse propriamente um problema, pois dizem que a própria Madsen fez protótipos nesse calibre. O calibre .45ACP era o calibre de arma curta padrão, adotado pelo Exército Brasileiro desde a aquisição dos primeiros lotes da pistola Colt 1911, em 1937. Havia pois a evidente necessidade da padronização do calibre para uso na sub-metralhadora. Além disso, a alavanca de manejo foi transferida da parte de cima da armação para a lateral direita, tal como ocorreu com as sub-metralhadoras Thompson norte-americanas.
Posteriormente surge o modelo M953, com pequenos melhoramentos tais como o alojamento do carregador mais longo e reforçado. Estas armas foram padrão de uso no Exército, de 1950 a 1972, e também nas forças policiais brasileiras. A sub-metralhadora INA possuía uma cadência de cerca de 600 tiros por minuto, não tinha dispositivo de tiro seletivo e funcionava com o princípio de ferrolho (culatra) aberto, embora a sua relativamente baixa cadência de tiro permitisse que um atirador, com certo treino, desse rajadas curtas; bastava para isso ter alguma intimidade com o gatilho da arma.
Detalhe de uma sub-metralhadora INA pertencente ao Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha do Brasil, nas décadas de 50 a 60. Detalhe para o seletor de segurança marcado F e S, posicionado sobre o gatilho.
A arma também não permitia o disparo com uma só mão, o que em certas situações de combate chega a ser uma desvantagem: uma tecla de segurança, posicionada junto ao retém do carregador, tinha que ser pressionada com a outra mão, obrigatoriamente, para que a arma disparasse. Caso essa tecla dianteira não fosse pressionada antes da tecla do gatilho, o ferrolho ainda assim era solto pelo gatilho mas seu curso era interrompido a cerca de poucos centímetros antes de alimentar o cartucho. O peso da arma era de 3,400 Kg, comprimento total de 74,9 mm e comprimento de cano de 214 mm.
Ainda deve-se ressaltar que esta submetralhadora granjeou uma fama digamos, um pouco injusta, entre os seus usuários, de ser pouco confiável em ação, pois em seu uso ocorriam muitos problemas de tiro (negas e falhas na alimentação), chegando ao ponto de que as iniciais do fabricante (I.N.A.) se tornaram uma cruel alcunha: “Isto Não Atira”. Verdade seja dita, a culpa era da munição .45 ACP nacional, de baixa qualidade, munição esta que inclusive acompanhou a arma quando da sua entrega às forças policiais, piorando ainda mais a má imagem da arma.
Vista explodida da arma, onde se nota a extrema simplicidade. A armação é de aço estampado, que se abre em duas metades articulada pelos mesmos parafusos que fixam a coronha, de tubo de aço.
Posteriormente o problema foi exaustivamente investigado, com auxílio do fabricante da munição, a C.B.C. Chegou-se à conclusão, depois de vários testes, que a carga de pólvora utilizada na munição .45ACP, antes somente destinada para uso na pistola 1911, não era adequada ao bom funcionamento da arma, devido a grande massa do ferrolho, bem maior do que os ferrolhos das 1911. A C.B.C. então lançou uma munição modificada, com carga mais potente, denominada de .45 M4, para ser utilizada especificamente na submetralhadora. Apesar do uso da munição M4 ter sido evitado e até proibido nas pistolas, chegou-se depois à conclusão de que as 1911 não sofriam nenhum tipo de problema com o uso dessa munição.
Alguns estudiosos também atribuem o problema de engasgues ao carregador da arma. Apesar de ser do tipo bifilar, havia um estrangulamento na seção final para que só um cartucho ficasse à mostra, preso pelos lábios do carregador de ambos os lados, ao contrário do projeto original da Madsen em que a abertura de saída era mais larga. Talvez por excessiva pressão da mola, e estando o carregador totalmente cheio, o ferrolho tinha certa dificuldade de extrair o cartucho, o que diminuía um pouco a velocidade e podia ocasionar negas, apesar do cartucho estar corretamente inserido na câmara.
A troca do cano nesta arma era uma operação bastante simples, o que era uma de suas grandes vantagens. Aliás, toda a manutenção interna era simplificada, pois a caixa de culatra era feita em duas partes, articulada por uma espécie de dobradiça, onde também se fixava a coronha. O cano possuía uma luva rosqueada na armação e era encaixado por uma chaveta. Bastava desatarrachar a luva, que possuía recartilhados para facilitar a aderência da mão, e a arma se abria em duas metades.
De modo geral, a submetralhadora INA era uma arma muito bem concebida. O projeto original Madsen era, indiscutivelmente, muito bem elaborado. Talvez o maior dano causado à ela tenha sido a necessidade da modificação do calibre original de 9mm Parabellum para o .45ACP, que aliada à uma munição, no início, problemática, causou muitos transtornos e uma imagem negativa.
O controle da arma, no calibre .45, era muito mais difícil de ser mantido do que no projeto original, devido à diferença de peso dos projéteis. Mas, se formos analisar as características gerais, como a facilidade de manutenção e desmontagem, o uso intensivo de estamparia no processo, baixando os custos, e a simplicidade do mecanismo, com poucas peças internas, o projeto pode, sem dúvida, ser avaliado como muito melhor e mais confiável do que muitas armas similares de sua época, como as inglesas Sten e as M3 norte americanas.
A Indústria Nacional de Armas se destacou na produção de armas que ficaram bem populares no Brasil, como a conhecida série dos revólveres “Tigre”, baseados no desenho dos Smith & Wesson norte-americanos, mod. 10 (Military And Police), em calibre .32 S&W Long, com várias versões onde se alterava a localização do desenho do logotipo, estampado na lateral da armação, ora variando para o lado esquerdo, ora no direito, ou de frente.
Revólver INA “Tigre” em calibre .32 S&W Long
Ironicamente, dentre os usuários do revólver, o tal “Tigre” era chamado de tudo, menos de tigre: ”onça”, ”leopardo”, “pantera”, ou coisa pior: até “gato”. Os revólveres da INA, no que tange à qualidade dos materiais empregados e do acabamento, foram os únicos produzidos no Brasil que podiam se equiparar aos fabricados pela Taurus e pela Amadeo Rossi, ambas no Rio Grande do Sul.
Revólver INA em calibre .38SPL, modelo de exportação para a Interarms, USA
A partir de 1966 surgem, os até hoje raros de se encontrar, exemplares em .38 SPL com 2, 3 ou 6 polegadas de cano, sendo bastante exportados principalmente para o mercado norte-americano. Na época, mesmo com as restrições impostas pelo R-105, o Regulamento que estabelecia diversas regras ao uso de calibres pelos civis, no Brasil, a INA chegou a produzir protótipos de um revólver em calibre .357 Magnum que, infelizmente, não chegou à linha de produção normal.
A INA Chanticler, em cal. 6,35mm Browning (.25 Auto) – desenho de Fábio Carvalho
A INA fabricou também uma pistola semi-automática de ação dupla, a única até então produzida no Brasil, o modelo “Chanticler”, que na verdade era uma versão com algumas modificações da pistola CZ-45, da afamada firma tcheca Česká Zbrojovka, e no mesmo calibre da original, o 6,35mm (uma versão maior desta arma, em 7,65mm, nunca chegou a sair do protótipo). Curiosamente, Chanticleer ou Chanticler é o nome de um galo muito esperto que aparece nas fábulas medievais dos “Contos de Canterbury” e, de fato, a marca de um galo estilizada aparece estampada no plástico da tala de empunhada esquerda desta pistola. Outra curiosidade sobre a Chanticler era que o 1º tiro (e apenas ele) poderia ser feito em ação simples, sendo os subseqüentes obrigatoriamente em ação dupla.
Derivada dela também havia uma versão melhorada, originalmente destinada para exportação aos EUA. Esta versão, que usava a marca comercial “Tiger”, possuía uma trava de desmontagem no meio da armação, sendo que seu desenho foi, na verdade, uma adequação às novas e rígidas regras norte-americanas do Gun Control Act de 1968. A INA fabricou também alguns (raros) exemplares desta arma que foram destinados às vendas internas. Outra lenda corrente entre os colecionadores seria que a INA teria fabricado protótipos de pistolas tipo Colt 1911 em .45 ACP, embora não se conheçam fotos ou o paradeiro das mesmas.
A CZ-45, fabricada na atual República Checa, cal. 6,35mm, na qual a INA Chanticler foi baseada.
O fim das atividades da INA, em 1972, foi inglório. A fábrica, que no final da produção ocupava um terreno em Ribeirão Pires, na Grande São Paulo, foi sendo lentamente atolada em dívidas; há até uma teoria de que “forças ocultas” governamentais fizeram de tudo para evitar que a INA sobrevivesse. Sem mais poder exportar, acabou falindo.
CHAPINA
No pequeno município de Itaquaquecetuba, nas proximidades de São Paulo, surgiu nos anos 60 a Empresa Irmãos Chapina S./A. Indústria Metalúrgica, cuja produção inicial e de maior importância foram as carabinas de repetição, por ação de ferrolho no então, pelo menos por aqui, não muito popular calibre .32-20 Winchester, cartucho desenvolvido pela Winchester em 1882 para uso nas suas carabinas de ação por alavanca modelo 1873.
Na década de 70, essas carabinas foram muito utilizadas pelas equipes que guarneciam os carros blindados usados no transporte de valores.
O cartucho .32-20 Winchester, do fabricante CBC
Carabina Chapina em calibre .32-20 – cortesia do colecionador R. Valverde
A carabina chapina, com carregador tipo caixa para 5 cartuchos, logo se tornou uma coqueluche nas empresas de transporte de valores da época. Eram bem feitas e com bom acabamento, apesar de que sua aparência era um pouco estranha, com soluções estéticas de gosto duvidoso. Segundo o historiador Fábio Carvalho, o primeiro lote foi de 1.200 armas com canos micro-raiados, e com coronhas do tipo Monte Carlo com opção de um orifício para posicionar-se o polegar. Um total de 6.000 armas foram produzidas.
Comenta-se que a Chapina teria lançado uma versão de sua carabina para utilizar o cartucho .30M1 com magazine para 15 cartuchos, mas não há uma provas materiais da existência dessas armas, pelo menos que chegaram ao conhecimento do autor.
A Chapina produziu também carabinas e pistolas de ar comprimido, os modelos 22, 27, e a Hermes, todas em calibre 4,5 mm, algumas delas para uso de setas e rolhas, muito comuns nos parques de diversões, e fabricadas de 1964 até 1975.
Dentre outras atividades da empresa, foi criada uma linha de produção para algemas, metais sanitários e canos de reposição para armas, sendo esses muito elogiados pelo raiamento primoroso, para armas longas nos calibres 44-40W, 38-40W e 32-20W, provavelmente para servirem de reposição para as carabinas da Winchester, bastante populares em nosso país. Para as armas curtas produziram canos para pistolas 6,35 e 7,65mm, inclusive para uso nas antigas FN e pistolas Colt modelo 1903 e 1905. A Chapina era responsável, também, pela produção de canos para os revólveres da Caramuru, modelo R1, com cano octogonal de 5 raias. Os irmãos Chapina encerraram as atividades no início dos anos 1980, tendo repassado todo o maquinário a um novo grupo que não continuou a fabricação de seus produtos.
CASTELO
A Indústria de Armas Castelo S.A. é provavelmente uma das mais antigas fábricas de armas do Brasil. Foi fundada em 1929 na cidade de São Paulo, no bairro do Belém. Posteriormente, mudou-se para Ferraz de Vasconcelos e para a Mooca. Dentre seus outros produtos, havia uma linha de material hidráulico. A razão social da empresa era Lizarriturri & Cia. , o que não deixa muitas dúvidas quanto à origem de seus proprietários: o país Basco da Espanha.
É notório que o país Basco, principalmente na região das cidades de Eibar e Guernica, sempre foi muito fértil no que se refere à produção de armas, lembrando que os mais famosos fabricantes espanhóis de armas surgiram naquela região.
Segundo Fábio Carvalho, seus nomes eram José María Lizarriturri e Dora Lúcia Alberdi. O Sr. José Maria chegou ao Brasil em 1928, e com a idéia inicial de montar uma fábrica de serras, que receberia o nome de Arrate, palavra que dá nome a um monte situado na cidade de Eibar. Fábio nos conta que batalhou muito, numa busca incessante, para descobrir seus nomes, pois os dados e informações, bem como a literatura nacional, é totalmente omissa neste caso. Isso nos dá muito orgulho, pois é o resgate de uma parte de nossa história oplológica. A Castelo tinha como logomarca o desenho de uma torre de Castelo, dentro do mapa do Brasil.
O logotipo do fabricante era bem visível, tanto na caixa de mecanismo como nas talas de empunhadura
Estima-se o início da produção de armas da Castelo em torno de 1940, sendo os produtos fabricados as garruchas de dois canos, em calibres 22LR, 320 e 380, esses dois últimos para uso com pólvora negra. A princípio essas garruchas não eram muito similares aos tradicionais modelos belgas e espanhóis, que eram tão populares aqui até a década de 50, utilizando um botão serrilhado abaixo do cano como a trava de abertura. O acabamento era, invariávelmente o niquelado, como aliás era padrão para esse tipo de arma. Porém, deixava a desejar na qualidade, pois era comum o desprendimento do material mesmo em armas não muito manuseadas.
Garrucha 320 da Castelo, do 1º modelo com o retém de abertura embaixo do cano
Um dos modelos mais controversos lançados pelo fabricante, sem dúvida um desenho de gosto e ergonomia discutíveis, foi a garrucha de dois canos em cal. 22LR e em 320 (320 Short Revolver), com uma empunhadura com talas em plástico, cuja trava de abertura dos canos passou a ser uma alavanca lateral. Provavelmente seu projetista tentou dar à arma uma aparência mais refinada, fugindo totalmente daquele padrão mais comum dessas armas, fazendo-a se parecer com uma pistola semi-automática. Na verdade, naquela época, haviam pessoas leigas que, ao examinarem a arma mais de perto, pensavam que haveria até um carregador a ser inserido na empunhadura.
Garrucha Castelo modelo 1 (coleção particular)
A qualidade do produto era realmente baixa, com acabamento niquelado rústico e com folgas nas articulações, mesmo nas armas novas. Como se tratava de munição “rim-fire” e os percussores eram montados na armação e não nos martelos, a falha (nega) era muito comum, com índices altíssimos, bem fora de um padrão aceitável, com tendência a ir piorando com o tempo, pois rapidamente as molas dos martelos entravam em processo de fadiga, aliado a um curso do martelo muito curto. Enfim, armas não confiáveis, definitivamente.
Garrucha Castelo do 2º Modelo, cal. 22, com seu desenho controverso, talvez com a intenção de se dar um “ar” mais sofisticado à arma,
semelhante à uma pistola semi-automática. Cortesia de J.R. Thomaz.
Garrucha Castelo em calibre 320, arma restaurada por colecionador, mostrando a alavanca lateral para efetuar o basculamento dos canos. (Cortesia J. Gonçalves.)
Depois das garruchas vieram os revólveres, inicialmente com um modelo do tipo “top brake”, o que era muito estranho por se tratar de uma solução, mesmo naquela época, obsoleta. Lembravam muito, na aparência, alguns dos antigos (porém muito bons) modelos ingleses da Webley & Scott, mas a inspiração era mesmo sobre os “top-break” da Smith & Wesson, muito comuns por aqui nas décadas de 20 a 40. O acabamento, para variar, era niquelado e tosco; os calibres eram o .22 LR com capacidade de 8 tiros e o .32 S&W, para 6 cartuchos.
Exemplar do modelo “top-break” da Castelo, em calibre .32 S&W (curto), acabamento niquelado e talas em ebonite (cortesia de J. Gonçalves)
Na década de 60 a Castelo desenvolve um modelo mais moderno de revólver, com tambor basculando para o lado, solução empregada por quase todos os fabricantes de revólveres, mas com um desenho próprio, que fugia um pouco da linha dos Smith & Wesson Military & Police, que eram adotados pela maioria dos fabricantes. Os calibres deste revólver eram o .22 LR e o 32 S&W Long, com canos variando de 2 a 4 polegadas de comprimento. A Castelo desenvolveu seus sistemas de abertura, trancamento do tambor e ejeção dos cartuchos por sua própria conta, e eram razoavelmente eficientes. O acabamento e a qualidade desta arma ainda ficava, sem dúvida, aquém dos modelos similares da Caramuru e da INA, mas mesmo assim eram aceitáveis e seu índice de confiabilidade era bem melhor do que os modelos anteriores. Todos os revólveres Castelo podiam funcionar tanto em ação dupla como simples, característica comum a quase todos os revólveres.
Belo exemplar de revólver castelo de 2º modelo, cal. 22 LR cano de 4”, foto cedida por Fábio Carvalho
Por volta da década de 1960, a Castelo resolveu enveredar por uma tendência comercial em alta no mercado; a produção de armas de ar comprimido. Para isso produziu uma pistola de pressão para o calibre 4,5mm. Como ocorreu com várias outras fábricas de armas no Brasil, a Castelo fechou suas portas durante a época dos governos militares, por volta da década de 70, devido mais a pouca competitividade que tinha, aliada às vendas reduzidas e em meio às muitas restrições. Mesmo assim, ficou somente no papel o projeto de uma pistola semi-automática e de um revólver em calibre 38 SPL.
Fonte: Armas on Line
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