A sub-metralhadora INA, em calibre .45ACP, adotada pelo Exército Brasileiro, com sua coronha articulada na posição aberta (foto: Manual de Operação EB-1956, do autor)
O carro chefe de sua produção sempre foi a submetralhadora M1950 (uma modificação da já citada Madsen M1946, sendo as diferenças principais da original dinamarquesa a mudança do calibre de 9 mm Parabellum para o 45 ACP, embora isso não fosse propriamente um problema, pois dizem que a própria Madsen fez protótipos nesse calibre. O calibre .45ACP era o calibre de arma curta padrão, adotado pelo Exército Brasileiro desde a aquisição dos primeiros lotes da pistola Colt 1911, em 1937. Havia pois a evidente necessidade da padronização do calibre para uso na sub-metralhadora. Além disso, a alavanca de manejo foi transferida da parte de cima da armação para a lateral direita, tal como ocorreu com as sub-metralhadoras Thompson norte-americanas.
Posteriormente surge o modelo M953, com pequenos melhoramentos tais como o alojamento do carregador mais longo e reforçado. Estas armas foram padrão de uso no Exército, de 1950 a 1972, e também nas forças policiais brasileiras. A sub-metralhadora INA possuía uma cadência de cerca de 600 tiros por minuto, não tinha dispositivo de tiro seletivo e funcionava com o princípio de ferrolho (culatra) aberto, embora a sua relativamente baixa cadência de tiro permitisse que um atirador, com certo treino, desse rajadas curtas; bastava para isso ter alguma intimidade com o gatilho da arma.
Detalhe de uma sub-metralhadora INA pertencente ao Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha do Brasil, nas décadas de 50 a 60. Detalhe para o seletor de segurança marcado F e S, posicionado sobre o gatilho.
A arma também não permitia o disparo com uma só mão, o que em certas situações de combate chega a ser uma desvantagem: uma tecla de segurança, posicionada junto ao retém do carregador, tinha que ser pressionada com a outra mão, obrigatoriamente, para que a arma disparasse. Caso essa tecla dianteira não fosse pressionada antes da tecla do gatilho, o ferrolho ainda assim era solto pelo gatilho mas seu curso era interrompido a cerca de poucos centímetros antes de alimentar o cartucho. O peso da arma era de 3,400 Kg, comprimento total de 74,9 mm e comprimento de cano de 214 mm.
Ainda deve-se ressaltar que esta submetralhadora granjeou uma fama digamos, um pouco injusta, entre os seus usuários, de ser pouco confiável em ação, pois em seu uso ocorriam muitos problemas de tiro (negas e falhas na alimentação), chegando ao ponto de que as iniciais do fabricante (I.N.A.) se tornaram uma cruel alcunha: “Isto Não Atira”. Verdade seja dita, a culpa era da munição .45 ACP nacional, de baixa qualidade, munição esta que inclusive acompanhou a arma quando da sua entrega às forças policiais, piorando ainda mais a má imagem da arma.
Vista explodida da arma, onde se nota a extrema simplicidade. A armação é de aço estampado, que se abre em duas metades articulada pelos mesmos parafusos que fixam a coronha, de tubo de aço.
Posteriormente o problema foi exaustivamente investigado, com auxílio do fabricante da munição, a C.B.C. Chegou-se à conclusão, depois de vários testes, que a carga de pólvora utilizada na munição .45ACP, antes somente destinada para uso na pistola 1911, não era adequada ao bom funcionamento da arma, devido a grande massa do ferrolho, bem maior do que os ferrolhos das 1911. A C.B.C. então lançou uma munição modificada, com carga mais potente, denominada de .45 M4, para ser utilizada especificamente na submetralhadora. Apesar do uso da munição M4 ter sido evitado e até proibido nas pistolas, chegou-se depois à conclusão de que as 1911 não sofriam nenhum tipo de problema com o uso dessa munição.
Alguns estudiosos também atribuem o problema de engasgues ao carregador da arma. Apesar de ser do tipo bifilar, havia um estrangulamento na seção final para que só um cartucho ficasse à mostra, preso pelos lábios do carregador de ambos os lados, ao contrário do projeto original da Madsen em que a abertura de saída era mais larga. Talvez por excessiva pressão da mola, e estando o carregador totalmente cheio, o ferrolho tinha certa dificuldade de extrair o cartucho, o que diminuía um pouco a velocidade e podia ocasionar negas, apesar do cartucho estar corretamente inserido na câmara.
A troca do cano nesta arma era uma operação bastante simples, o que era uma de suas grandes vantagens. Aliás, toda a manutenção interna era simplificada, pois a caixa de culatra era feita em duas partes, articulada por uma espécie de dobradiça, onde também se fixava a coronha. O cano possuía uma luva rosqueada na armação e era encaixado por uma chaveta. Bastava desatarrachar a luva, que possuía recartilhados para facilitar a aderência da mão, e a arma se abria em duas metades.
De modo geral, a submetralhadora INA era uma arma muito bem concebida. O projeto original Madsen era, indiscutivelmente, muito bem elaborado. Talvez o maior dano causado à ela tenha sido a necessidade da modificação do calibre original de 9mm Parabellum para o .45ACP, que aliada à uma munição, no início, problemática, causou muitos transtornos e uma imagem negativa.
O controle da arma, no calibre .45, era muito mais difícil de ser mantido do que no projeto original, devido à diferença de peso dos projéteis. Mas, se formos analisar as características gerais, como a facilidade de manutenção e desmontagem, o uso intensivo de estamparia no processo, baixando os custos, e a simplicidade do mecanismo, com poucas peças internas, o projeto pode, sem dúvida, ser avaliado como muito melhor e mais confiável do que muitas armas similares de sua época, como as inglesas Sten e as M3 norte americanas.
A Indústria Nacional de Armas se destacou na produção de armas que ficaram bem populares no Brasil, como a conhecida série dos revólveres “Tigre”, baseados no desenho dos Smith & Wesson norte-americanos, mod. 10 (Military And Police), em calibre .32 S&W Long, com várias versões onde se alterava a localização do desenho do logotipo, estampado na lateral da armação, ora variando para o lado esquerdo, ora no direito, ou de frente.
Revólver INA “Tigre” em calibre .32 S&W Long
Ironicamente, dentre os usuários do revólver, o tal “Tigre” era chamado de tudo, menos de tigre: ”onça”, ”leopardo”, “pantera”, ou coisa pior: até “gato”. Os revólveres da INA, no que tange à qualidade dos materiais empregados e do acabamento, foram os únicos produzidos no Brasil que podiam se equiparar aos fabricados pela Taurus e pela Amadeo Rossi, ambas no Rio Grande do Sul.
Revólver INA em calibre .38SPL, modelo de exportação para a Interarms, USA
A partir de 1966 surgem, os até hoje raros de se encontrar, exemplares em .38 SPL com 2, 3 ou 6 polegadas de cano, sendo bastante exportados principalmente para o mercado norte-americano. Na época, mesmo com as restrições impostas pelo R-105, o Regulamento que estabelecia diversas regras ao uso de calibres pelos civis, no Brasil, a INA chegou a produzir protótipos de um revólver em calibre .357 Magnum que, infelizmente, não chegou à linha de produção normal.
A INA Chanticler, em cal. 6,35mm Browning (.25 Auto) – desenho de Fábio Carvalho
A INA fabricou também uma pistola semi-automática de ação dupla, a única até então produzida no Brasil, o modelo “Chanticler”, que na verdade era uma versão com algumas modificações da pistola CZ-45, da afamada firma tcheca Česká Zbrojovka, e no mesmo calibre da original, o 6,35mm (uma versão maior desta arma, em 7,65mm, nunca chegou a sair do protótipo). Curiosamente, Chanticleer ou Chanticler é o nome de um galo muito esperto que aparece nas fábulas medievais dos “Contos de Canterbury” e, de fato, a marca de um galo estilizada aparece estampada no plástico da tala de empunhada esquerda desta pistola. Outra curiosidade sobre a Chanticler era que o 1º tiro (e apenas ele) poderia ser feito em ação simples, sendo os subseqüentes obrigatoriamente em ação dupla.
Derivada dela também havia uma versão melhorada, originalmente destinada para exportação aos EUA. Esta versão, que usava a marca comercial “Tiger”, possuía uma trava de desmontagem no meio da armação, sendo que seu desenho foi, na verdade, uma adequação às novas e rígidas regras norte-americanas do Gun Control Act de 1968. A INA fabricou também alguns (raros) exemplares desta arma que foram destinados às vendas internas. Outra lenda corrente entre os colecionadores seria que a INA teria fabricado protótipos de pistolas tipo Colt 1911 em .45 ACP, embora não se conheçam fotos ou o paradeiro das mesmas.
A CZ-45, fabricada na atual República Checa, cal. 6,35mm, na qual a INA Chanticler foi baseada.
O fim das atividades da INA, em 1972, foi inglório. A fábrica, que no final da produção ocupava um terreno em Ribeirão Pires, na Grande São Paulo, foi sendo lentamente atolada em dívidas; há até uma teoria de que “forças ocultas” governamentais fizeram de tudo para evitar que a INA sobrevivesse. Sem mais poder exportar, acabou falindo.
CHAPINA
No pequeno município de Itaquaquecetuba, nas proximidades de São Paulo, surgiu nos anos 60 a Empresa Irmãos Chapina S./A. Indústria Metalúrgica, cuja produção inicial e de maior importância foram as carabinas de repetição, por ação de ferrolho no então, pelo menos por aqui, não muito popular calibre .32-20 Winchester, cartucho desenvolvido pela Winchester em 1882 para uso nas suas carabinas de ação por alavanca modelo 1873.
Na década de 70, essas carabinas foram muito utilizadas pelas equipes que guarneciam os carros blindados usados no transporte de valores.
O cartucho .32-20 Winchester, do fabricante CBC
Carabina Chapina em calibre .32-20 – cortesia do colecionador R. Valverde
A carabina chapina, com carregador tipo caixa para 5 cartuchos, logo se tornou uma coqueluche nas empresas de transporte de valores da época. Eram bem feitas e com bom acabamento, apesar de que sua aparência era um pouco estranha, com soluções estéticas de gosto duvidoso. Segundo o historiador Fábio Carvalho, o primeiro lote foi de 1.200 armas com canos micro-raiados, e com coronhas do tipo Monte Carlo com opção de um orifício para posicionar-se o polegar. Um total de 6.000 armas foram produzidas.
Comenta-se que a Chapina teria lançado uma versão de sua carabina para utilizar o cartucho .30M1 com magazine para 15 cartuchos, mas não há uma provas materiais da existência dessas armas, pelo menos que chegaram ao conhecimento do autor.
A Chapina produziu também carabinas e pistolas de ar comprimido, os modelos 22, 27, e a Hermes, todas em calibre 4,5 mm, algumas delas para uso de setas e rolhas, muito comuns nos parques de diversões, e fabricadas de 1964 até 1975.
Dentre outras atividades da empresa, foi criada uma linha de produção para algemas, metais sanitários e canos de reposição para armas, sendo esses muito elogiados pelo raiamento primoroso, para armas longas nos calibres 44-40W, 38-40W e 32-20W, provavelmente para servirem de reposição para as carabinas da Winchester, bastante populares em nosso país. Para as armas curtas produziram canos para pistolas 6,35 e 7,65mm, inclusive para uso nas antigas FN e pistolas Colt modelo 1903 e 1905. A Chapina era responsável, também, pela produção de canos para os revólveres da Caramuru, modelo R1, com cano octogonal de 5 raias. Os irmãos Chapina encerraram as atividades no início dos anos 1980, tendo repassado todo o maquinário a um novo grupo que não continuou a fabricação de seus produtos.